PARTE I
Dra. Maria Margareth Alves dos Santos
Psicóloga com formação direcionada para a área oncológica
Curas na Fé: Quais as principais necessidades do paciente e familiares durante a quimioterapia?
MS: Vamos considerar que tanto o paciente como os familiares estão lidando com uma doença que impõe mudanças significativas na vida de quem se relaciona com ela. Apontamos as necessidades ativas e adaptativas no processo da Quimioterapia, o importante é que estejam bem informados e saibam administrar os efeitos colaterais do tratamento (náuseas, alopecia, e outros) e lidar com as restrições alimentares, sociais, laborais etc...
Curas na Fé:Quando um paciente procura a ajuda do terapeuta, desejando solução rápida para sua angústia, qual a resposta mais imediata que você pode dar a ele?
MS: O acolhimento e a escuta especializada. Visto a doença como uma ameaça à vida, enfrentá-la desencadeia reações emocionais especificas como o medo da dor, da morte o que pode gerar em alguns o estresse, a ansiedade, angústia e a depressão. Nossa avaliação pode apontar a gravidade dos sintomas e tratá-los na psicoterapia e com ajuda medicamentosa prescrita pelo médico.
Curas na Fé: A ajuda do psicólogo vai além da simples humanização dos serviços de saúde, chegando a contribuir efetivamente para a melhoria do paciente e sua recuperação?
MS: A psicologia com pacientes oncológicos sugere uma compreensão abrangente sobre os aspectos orgânicos, psicológicos e fatores sociais; assim a ajuda do psicólogo na clínica oncológica deverá estar atenta ao comportamento do paciente, suas demandas, seus familiares acompanhantes e a equipe de saúde cuidadores da unidade de saúde que também sofre por impotência, formação de vínculos. Esse olhar mais amplo tem efetivamente contribuído com a melhor qualidade de vida de todos envolvidos.
Curas na Fé: Para o paciente, o câncer traz em si a consciência da possibilidade de morte. Como a terapia ajuda a mudar este sentimento ou este pensamento.
MS: A terapia pode ajudar o paciente a repensar seus valores, a desenvolver forma mais eficiente de enfrentamento da doença e do seu estigma, buscar significados para os acontecimentos marcantes no decorrer da sua vida, promover a expressão das emoções, e rever o sistema de crenças que na grande maioria propõe uma forma não convincente da terminalidade.
Curas na Fé:Pode durar um tempo,mas será que o paciente que já teve câncer em uma etapa de sua vida, perderá o medo com a ajuda da terapia?
MS: Temos observado que sempre que o paciente busca e recebe informações a respeito da nova realidade, e conhece suas limitações e possibilidades, alem da diminuição da ansiedade e do medo ele cria estratégias positivas para lidar com estes sentimentos.
Curas na Fé: Quando descobrimos que temos um câncer, de imediato sentimos a notícia como “ uma sentença de morte antecipada” Ao tomar consciência da possibilidade imediata da própria morte, somos levados a rever as prioridades e os valores de nossa vida . Qual a maneira mais acertada para mostrar a este paciente que este sentimento não corresponde à realidade?
MS: Receber o diagnóstico de uma doença grave e submeter-se ao tratamento já constitui elementos estressantes. Cabe a nós informarmos todas as dúvidas, e acompanhar os aspectos emocionais do paciente relacionados ao compromisso e adesão ao tratamento, proporcionar uma atitude de autocontrole e confiança no seu bem estar, para que o paciente entenda que ele não esta sozinho nesta jornada.
Curas na Fé: Qual é o trabalho que você realiza com os pacientes de maneira geral?
MS: Na Oncoleste, nos montamos o serviço de Orientação Psicológica, supervisiono ou executo junto com a Sarah também psicóloga para atender exclusivamente os pacientes e seus familiares conforme demanda estabelecida pelos profissionais da equipe: médicos (Dr. Célio Cardoso, Dra. Eusana Milbratz, Dra Ana Beatriz Coppoli) enfermeiras (Carla Silva e Simone), nutricionista(Roberta Coelho) e o atendimento agendado para avaliar as condições psicológicas e direcionar a intervenção.
Curas na Fé: Com qual abordagem psicológica você trabalha?
MS: Abordagem da psico-oncologia foca os problemas psicosociofamiliar, é uma visão multifatorial que buscamos primeiro aplicar em nos, para dar o devido valor as nossas atuações e dos demais colegas, tendo sensibilidade, humildade e tato para priorizar o que realmente demanda nosso paciente: orientação nutricional, cuidados da enfermagem, intervenção médica ou psicológica.
Curas na Fé: Qual trabalho você realiza com a família do paciente?
MS: A família do paciente pode também necessitar de cuidados psicológicos e até psiquiátricos devido a tensão e exaustão provocados quando algum familiar tem o papel de cuidador. O médico assistente conversa e observa o comportamento e as demandas familiares de cada paciente. Conforme a sua avaliação nos solicita intervenção. Observamos que os familiares que requerem acompanhamento permanente da psicologia são: por ocasião de recidiva da doença ou quando o paciente é indicado para cuidados paliativos. Neste caso são feitas visitas domiciliares, com orientação da enfermagem, nutrição e psicologia. Outra situação que atuamos comumente, quando o familiar nos informa suas preocupações e condutas, sentimentos do paciente não expressados por ele, como sintomas de medo, agressividade, desinteresse com o tratamento.
Continuação dia 03 de abril.....
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